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Do I wanna know?




Nos conhecíamos há treze anos, não nos víamos há sete anos. Tanta coisa aconteceu pra mim, tanta coisa aconteceu pra ele, que eu nunca vou entender de fato, porque tínhamos essa conexão. Bem, eu não chamo bem de conexão, mas sim, como ele mesmo me disse uma vez: apego ao passado. Gosto da lembrança que ele me deu, de um beijo tão gostoso que eu não tinha vontade de parar nunca, poderia ficar beijando-o por horas. Depois de um certo tempo e eu diria que depois de muitos anos entendi que ele era sim apaixonado por mim, que poderíamos sim ter vivido alguma coisa de fato, mas eu simplesmente não estava muito afim, na verdade eu me aproveitava muito quando ele vinha assim, gostava dele correndo atrás de mim, quando paro pensar me vem uma palavra na cabeça: sacana. 
Too dumb to surrender. 
Quando meu celular vibrou ao meio dos desvaneios sobre ele, me surpreendi e até mesmo sorri, acho que aquilo que jogar pro universo funciona as vezes. Era ele me chamando para ir ao seu encontro e novamente eu pensei: bem, eu posso muito bem parar aqui, posso continuar onde estou, não vai acontecer nada, esse é o combinado. No fundo mesmo eu quis acreditar, mas talvez eu sempre soubesse que não seria bem assim. 
Então cheguei e o vi, ele tinha mudado, mas não tinha. Tinha esquecido que ele era alto, se eu fosse bem sincera comigo, tinha uma grande tensão sexual muito da sua palpável ali, e eu fingi por vários momentos que não.
- Oi né, quanto tempo. – Eu disse sem graça.
- Sim, mas pra ser sincero nem parece. – Ele me respondeu de volta, oferecendo uma bebida. 
De toda a nossa “relação”, o que eu mais gostava era isso, nunca parecia que treze anos tinha passado, parecia que foi ontem (lá em 2009) que nos conhecemos e nunca mais havíamos parado de nos falar. Conversamos, conversamos sobre a vida, sobre as perspectivas de tudo. Nesses dias do calor de Manaus, até que ventava, mas que depois esquentou e ouso dizer que foi nesse calor que eu me perdi. Me segurei muito para não falar nada que fosse de segundas intenções, apesar de ter uma terceira, quarta e por aí vai – da minha parte - e pra ser bem sincera, ele até que parecia controlado, bem mais do que eu. Em um certo momento, com a minha cadeira de frente pra ele e ele sentado no banco também a minha frente, eu só abaixei a cabeça respirando fundo.
- Que calor não é, eu acho que não vamos sobreviver. – Eu disse meio cansada e fazendo acenos com a mão tentando puxar alguma tentativa de vento em minha direção. 
- Sim, demais. Porém, vamos viver. – Ele disse, rindo. – Quer que eu te abane? – Ele perguntou inocentemente. 
Eu levantei a cabeça devagar e e falei quase que  implorando – Sim, por favor. 
Eu quis muito alertar que aquilo não era uma boa ideia, mas dei um sorriso de canto me testando e claro a ele também. Então literalmente começou a soprar em minha direção e com muita intenção, eu joguei minha cabeça para trás deixando meu colo a mostra e de olhos fechados. Nesse momento eu quis acreditar que seria só aquilo, ele estava concentrado e da parte dele eu realmente senti que não tinha vontade nenhuma de alguma coisa, continuei então de olhos fechados, sentindo aquilo que ele estava fazendo. Em vez de ajudar eu acho que piorou minha situação, e eu estava com uma vontade incontrolável de pular em cima dele e roubar uns beijos e me afastei, era melhor não. 
Ele pareceu surpreso.
- Obrigado, mas acho que é o suficiente. – Eu disse sorrindo, me afastando. Ele pareceu entender. E sem falar nada, porque quando eu o olhava eu tinha um desejo insano de beija-lo eu abaixei de novo a cabeça sem dizer nada. Dessa segunda vez, ele se aproximou colocando as minhas mãos nos meus joelhos e eu já estremeci bem ali, não quis me mover para olhá-lo, não me atreveria a tanto. Apesar da enorme vontade que eu estava tendo. E sem aviso prévio nenhum, ele começou novamente a soprar dessa vez na minha nuca e senti um arrepio que não queria mesmo ter sentido. 
- Por favor, não faz isso. Eu to tentando. – Eu disse num tom baixo, e eu pude ouvir a risada dele e ele falar calmamente. Ele entendeu o que eu quis dizer.
- Eu não to fazendo nada, estou apenas te ajudando a não sentir mais calor. – Ele disse, e eu ri e apenas confirmei. 
Nessa brincadeira toda eu já nem sabia que horas era, mas sabia que era tarde e que devia estar em casa. Quando então num convite despretensioso e eu acredito que da parte dele, dessa vez com muitas intenções, me chamou pra entrar. 
Fomos então para uma sala, escura, mas com um sofá e um ventilador que eram uma delícia para meu cansaço que já estava começando a sentir em mim. Ele se sentou de um lado e eu de outro, e eu achei que seria desse jeito pelo resto da madrugada, mas claramente eu estava muito enganada. Ele pediu para eu me aproximar e eu levei junto comigo uma almofada e me deitei na coxa dele e de costas pra ele, quando ele tocou no meu braço aquele arrepio que eu não queria ter sentido veio com força, continuei de olhos  fechados, apenas fingindo que aquilo não estava acontecendo. Sentindo a carícia das suas mãos em meus cabelos e eu agradeci mentalmente porque eu estava sim, carente, aquele calento me pegou realmente de surpresa naquela noite. Quando então ele disse.
- Vira para mim. - Me virei e então as mãos dele que ainda me fazia um carinho gostoso na nuca, continou e me fez relaxar, quase dando uma vontade de dormir.
- Não dorme – Ele disse, me olhando. E eu continuei de olhos fechados, e disse mesmo assim.
- Não vou, eu estou aqui, vamos falar de uma coisa. – E eu só pude ouvir sua risada baixa, algum tempo passou e nem sei dizer se foram segundos, minutos ou qualquer outra coisa e sem nenhum aviso prévio ele beijou meu pescoço e a bochecha. Respirei fundo e apenas disse.
- Por favor, não faz isso – Eu abri os olhos o encarando. 
Ele de um jeito muito sacana, levantou os braços, parecendo inocente. E bom, foi ali que eu achei minha brecha e percebi que ele queria tanto como eu, que a tensão sexual não era só da minha parte, era dele também. Se ele estava um pouco disposto, me aproveitaria da situação como bem fiz em seguida. Me levantei e me sentei de costas para ele e antes mesmo de fazer o que eu queria fazer, novamente ele puxou meu cabelo mas dessa vez com força quase me fazendo quase gemer, beijando novamente meu pescoço com um pouco mais de veracidade. Sem nenhum pudor e sem pensar muito no que isso causaria, eu fui por cima dele, me sentando em seu colo puxando seus cabelos da nuca com força e beijando seu pescoço com vontade, passando toda a minha língua por toda a extensão dele. O senti se mexer involuntariamente e também gemer, estávamos quites. 
Continuamos assim por um bom tempo, sem nos beijar, apenas nos provocando de um jeito tão gostoso que eu não queria parar nunca. Eu podia sentir seus lábios perto dos meus, sua respiração quente e pesada, beijando o canto da minha boca e toda a extensão da minha bochecha, sua outra mão na minha cintura, me pegando do jeito que eu gosto. Devo dizer que em alguns poucos momentos de lucidez eu tentei alertá-lo várias vezes que aquilo era errado, que não devíamos, não podíamos e acima de tudo: que ele estaria magoando alguém que não merecia aquilo. E eu pude ver ele lutando contra isso de alguma forma e eu quase senti um pouco culpada, se eu não tivesse sido tomada pelo meu desejo de querê-lo muito. 
Numa dessas que a gente se sentou um de frente pro outro, eu passei minha língua pelos seus lábios, sabendo que ali seria a perdição dele. Eu o senti perdendo o fio de sanidade que o segurava, e sem mais demoras, nos beijamos. E o beijo foi exatamente igual de anos atrás, o beijei com vontade, com força e com tesão, muito tesão. Nos envolvemos nos braços um outro e eu acredito que conseguimos aliviar pelo menos uns 5% da muita vontade que existia ali, apesar de ser muito errado, mas como sempre disse: eu adoro um proibido. Nos entregamos ali, quase que por completo, quase. 
O dia foi amanhecendo e eu sabia que aquele tinha sido o nosso momento, soube ali mesmo que por mais que ele tivesse gostado muito, ele tinha se arrependido. E eu entendia, entendia muito e sabia que não poderia cobrar qualquer coisa, eu não tinha esse direito. Ele disse algo como “não me arrependo”, ou talvez eu só quisesse ter ouvido isso da boca dele, mas eu acho que estava um pouco extasiada pelo momento. Então eu sabia que era hora de ir. 
Fui.
Não espero vê-lo de novo e nem beija-lo tão cedo. De toda a nossa história, o timing nunca esteve do nosso lado e eu acredito que isso queira dizer alguma coisa. Se caso aconteça, que não demore tantos outros treze anos. 



If this feeling flows both ways? 
n o. 
(Sad to see you go)





Pra você, Paulo. 

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