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Vem pra casa.


Estava congelando la fora, mas a porta da varanda estava entreaberta. Antes que eu me aproximasse, peguei meu cigarro acendendo devagar, puxando o gosto amargo da nicotina até que chegasse aos meus pulmões, fechei os olhos. Eu estava apenas com sua camisa de botão, e o cabelo preso, e apesar de todo o frio isso não me incomodava, eu estava pensativa. Olha onde as coisas estavam indo parar, em toda minha vida eu nunca pensei que fosse ser assim, abri os olhos e olhei para além da varanda e eu podia avistar de longe a London Eye, bonita e grandiosa. O ipod tocava baixinho alguma música que não reconhecia no momento, fumei mais um pouco. Perdida em meus devaneios eu não ouvi ele se aproximar, sua voz firme me assustou: 
- Eu pensei que você fosse parar. – E então ele olhou para o cigarro em minhas mãos. E eu virei rapidamente para ele acompanhando seu olhar e o fitei, mas logo depois me virei.
- Eu vou, mas não agora. – Falei, já de costas. 
- Olha pra mim, enquanto você fala comigo. – Ele disse num tom autoritário. E eu soltei uma risada baixa. De tudo que eu pensei um dia sobre ele, nunca esperei um lado autoritário. Então me virei mais uma vez, apenas encarando-o.
- Pra que você quer que eu te olhe? Pra gente discutir de novo? Pra eu lembrar de tudo que você tá me fazendo passar? É isso que você quer? – Falei um pouco exasperada e num tom de cansaço. 
Eu estava cansada, e muito. Aquilo, aquela situação exigia de mim muito mais do que eu podia imaginar, era difícil demais. Fechei os olhos, enquanto sentia o olhar dele me encarar atentamente. Mas eu sabia que não podia desistir, não ali, e não agora depois de tanto tempo. É claro. Mas de uma certa forma, isso me esgotava de um jeito estranho. Era masoquismo, eu não podia fazer nada se eu estava rendida naquele amor. Muito tola para se render e desistir.
- Eu pensei que estava tudo bem. Há uns minutos atrás nós estávamos nos entendendo perfeitamente bem. – Ele disse. Sua voz era calma, mas ainda assim eu podia sentir a tensão em suas palavras. 
- A gente se entende bem na cama. – Falei, sorrindo em deboche, e então ele disse:
- Não fala assim. Eu sei que você tem suas razões, eu posso senti-las em cada palavra que sai da sua boca. – O ouvi com atenção, e por mais que aquilo me confortasse no momento, não era o suficiente. 
- Eu to cansada só das tuas palavras. Eu quero mais e você sabe disso. - Falei com a voz um pouco mais baixa.
Ele nada disse dessa vez, ele entendia toda vez que eu dizia que queria mais. E eu odiava o silêncio dele, talvez eu preferisse uma palavra qualquer do que isso. Por que toda vez que ele ficava assim, eu sabia que as coisas não iam mudar muito. Ele permaneceu quieto e eu me virei de costas mais uma vez. Ele veio vindo em minha direção, tocando meu braço levemente e depois entrelaçando as mãos dele a minha. Correspondi porque cada vez que ele me tocava era um alívio, eu só queria que ele me tocasse, em qualquer lugar, e porque o toque dele era exatamente igual a visitas atrás e não muito frequentes que ele me fazia, porque toda vez que ele me tocava eu podia respirar, eu podia viver. Ele então me abraçou por trás, e eu pude sentir seus lábios no meu pescoço desnudo afastando os fios que por ali insistiam estar, eu respirei fundo e estremeci, senti o mesmo sorrir. Eu odiava esse poder que ele tinha sobre mim, e eu odiava ainda mais não conseguir odia-lo sequer um momento por isso. Então eu me virei para olhar em seus olhos, seus olhos no qual eu via cores que eu nem sabia que podia existir, seus olhos castanhos cor de mel, que as vezes, eu via verdes. Levei uma das minhas mãos até a nuca dele, acariciando de leve e descendo até seus ombros, ele então disse:
- Darling, your look can kill, but not me. – Eu, nada disse. 
E eu entendi o que ele quis dizer com isso. Não era algo psicopata, apesar de parecer. O meu olhar na maioria das vezes era desse jeito porque eu procurava através dos olhos dele saber se aquilo era real, dentro dos olhos dele eu me perdia em toda a realidade que existia. Dentro do olhar dele, eu me achava. O olhar dele, me matava, e ao mesmo tempo me trazia de volta. E em vez de parar de olha-lo eu continuava ali, parada. Ele aproximou mais nossos rostos, e inclinei um pouco pra sentir sua respiração perto da minha boca, fechei os olhos. Ele então começou a passear seus lábios pela minha bochecha, queixo e cada parte que ele podia alcançar, descendo levemente para meu pescoço, e para que eu não perdesse o chão os meus dedos se entrelaçaram seus cabelos, e as vezes agarrava com força a nuca dele. Ele, com a voz baixa começou a falar:
- Baby, vem pra casa hoje, você diz pra eu me comportar e que esta com medo, me dizendo pra ficar longe, baby, olhe a sua volta, você disse que ia deixar a cidade dizendo que precisa de tempo pra pensar, e falando que eu não te amo mais. Você diz isso toda hora, mas sei que se alguém te ver e achar por aí, eles vão saber, você mais que tudo. 
Ele dizia cada palavra e beijava o meu pescoço, me fazendo delirar. Uma de suas mãos estava por de baixo da minha camisa e passeava livremente por minha barriga e cintura, deslizando seus dedos calmos e ao mesmo tempo apressados, apertando levemente de vez em quando me fazendo soltar leves grunhidos. Eu tentava me concentrar no que ele dizia, mas as vezes eu me perdia. Ele continuava falar, dessa vez subindo os beijos pra perto da minha orelha, ele continuou: 
- Prometa que se for, não voltará. E que vai me deixar sozinho, e que vai me deixar pensar sobre tudo isso. Mas baby, como você pode então ter coragem de fazer isso, se você me tem, mas as vezes eu acho que isso não é o suficiente pra você, e então eu penso em ti, e como você faz isso toda hora. – Ele dizia em meu ouvido, mordiscando o lóbulo da minha orelha, me fazendo de repente estar com calor, e querer arrancar todas as nossas roupas. Mas se ele sabia me prender de alguma forma, era assim, me enlouquecendo aos poucos. Sempre foi assim. Ele voltou a beijar minha bochecha e chegou perto dos meus lábios novamente, prendi a respiração, ele me olhou mais uma vez e subiu uma das mãos dele até minha nuca, e disse: 
- Você é minha. Baby, vem pra casa hoje, vem pra mim. – E com isso, eu senti seus lábios aos meus, num beijo feroz, puxando meu cabelo com certa força. 
O gosto dele se misturava com meu, e as nossas línguas eram inquietas e competitivas, o que tornava o nosso beijo só nosso, tornava o nosso beijo doce, mas não doce no sentido de açúcar, mas de me fazer delirar. Suas mãos que antes passeavam por minha barriga, agora estavam firmes em meus quadris, e eu descia a minha outra por suas costas desnudas, arranho levemente o fazendo contrair, deixando nossos corpos ainda mais colados. Nos perdíamos passeando nossas mãos em nossos corpos, ao mesmo tempo conhecidos mas que, toda vez nos dava a sensação de algo novo. E era isso que eu amava tanto em nos dois, era isso que me deixava ali e que me fez vir aqui depois de tanto tempo. Eu não iria desistir agora, não depois de tudo isso. Eu e ele estávamos apenas começando algo grandioso que nos esperava lá na frente. Não iriamos desistir, nem eu e nem ele. Talvez ele esteja certo e talvez eu esteja errada. Nós vamos lutar até fim, por que isso era algo que nos movia, e eu não podia negar, eu não estava sozinha. Ele iria comigo até o fim.

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