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Cecília e os balões.




Era um final de agosto e o céu tinha cor de algodão doce. Algumas crianças brincavam num parquinho, longe. Deitada na grama, eu ouvia suas risadas e pensava se alguém, um dia, também ouvira a felicidade em minha risada de menina, quando eu corria atrás de um cachorro, ou quando me divertia sozinha na balança. Uma nuvem sorria, longe de meu alcance. Estar deitada na grama nos fins de tarde era o meu passatempo preferido. Adorava observar o céu - às vezes eu pensava como seria passear de balão sobre essas nuvens que tanto me sorriam com seus desenhos abstratos. De repente, o toque do meu celular me tira dos meus devaneios: era Cícero. Ele chegava hoje de madrugada, uma da manhã, finalmente. Ficar sem ele esse tempo todo ao meu lado foi difícil, mas eu pelo menos consegui me desprender das asas de meu irmão. A mensagem dizia: “Te vejo em algumas horas, mal posso esperar. Até daqui a pouco, minha pequena.” Sorri e guardei o celular na bolsa, voltei a olhar para o céu. Pensar que Cícero chegaria logo me deixava ansiosa e com uma saudade extrema - porque mesmo a saudade sendo feita pra doer, é por meio dela que percebemos o quanto amamos alguém.
Percebi que estava ficando tarde e então tratei de logo levantar e ir pra casa. O Central Park era um dos meus lugares favoritos do mundo, aquele tipo de lugar que você sabe que te faz bem. Sua grama verde e gostosa, as pessoas passando, crianças brincando e casais apaixonados no seu mundinho clichê. Segui o caminho que levava até ao metrô. Não demorou muito até que eu chegasse em casa - eu morava num bairro chamado Bedford. Era um bairro pequeno e a vizinhança tinha lá seus desagrados, mas eu não tinha do reclamar - dava pra sobreviver. Subi as escadas até que chegasse ao apartamento 707, entrei as pressas e fui direto para o banho. Logo depois me arrumei com calma e ansiosa para a chegada de Cícero; estava tudo pronto, o quarto dele ainda estava o mesmo de seis anos atrás, eu nunca mexera em nada. Não por medo, mas deixar as coisas do jeito dele me fazia ter a sensação que ele estava lá comigo. Comi qualquer coisa que vi pela geladeira, e sem perceber já eram onze horas - tratei de ajeitar tudo e ir logo ao aeroporto. 
Cheguei e procurei pelo portão cinco, sentei à sua espera e as horas pareciam demorar a passar; é sempre assim. Até que olhei na tela e o aviso dizia que o avião já havia pousado. Me levantei mais ansiosa que nunca e passado uns 20 minutos ele estava lá, vindo em minha direção com um dos seus melhores sorrisos. Não esperei e caminhei ao encontro dele, nos aproximamos e eu finalmente o abracei, depois de tanto tempo. Cícero retribuiu o abraço com todo o carinho do mundo, e nem foi preciso dizer que estávamos com saudades um do outro, porque eu conseguia sentir no seu abraço acolhedor e protetor de irmão, e sem perceber eu estava chorando, até que:
“Cecília, minha pequena. Que saudades de você.” 
Eu sorria e lagrimava sem parar.
“Finalmente você aqui, Cícero. Já estava na hora de você voltar mesmo! Saudades enormes de você!” 
“Vamos, me ajuda com as malas! Eu tenho tanto pra te contar de Londres! Eu tenho certeza que você irá adorar... Ah, e trouxe muitos presentes pra você!”, ele dizia, sorrindo.
E eu, empolgada, retribuía na mesma sintonia. Ajudei-o e seguimos em busca de um táxi para que pudéssemos ir juntos para casa. No caminho para casa, eu ouvia Cícero com toda a minha atenção, ele falava animado sobre como era bom estar em casa, mas que Londres faria falta. Falava das suas belas ruas, da famosa London Eye... Ele sorria sem parar. Ele não tinha mudado muito, seus cabelos continuavam castanhos, com a diferença que agora estavam maiores, seus olhos cor de mel ainda eram os mesmos, mas tinham um brilho que eu não via fazia tempo. O seu sorriso, sem muitas mudanças, era meu preferido. Chegamos em casa e, quando saímos do táxi, ele passou a mão pelo meu ombro, me abraçando e bagunçando um pouco meu cabelo: 
“É muito bom estar em casa, e melhor ainda é estar aqui com você.”
“É bom ter você aqui também, não aguentava mais te dividir com as londrinas.” 
Ele gargalhou alto. Rimos juntos. 
Subimos, e abri a porta para que ele entrasse. Ele olhou e ficou parado alguns instantes enquanto eu tirava os sapatos, sentando no sofá.
“Nada mudou, o apartamento está exatamente como há seis anos”, ele disse normalmente.
“E o que você esperava? Que as paredes estivessem pintadas de rosas e os móveis todos trocados?”, disse rindo e ele veio até mim e sentou na outra ponta do sofá.
“Claro que não, sua boba! Até porque se você tivesse feito isso, nós teríamos uma briga séria! Mas... Não sei o que esperava, pra ser sincero...”, ele disse, sério. 
Respondi só um “Hum”. Permanecemos um pouco em silêncio.
“Ah, Cícero, durante esse tempo alguns amigos vieram aqui e eu deixei que eles dormissem no seu quarto... Espero que não se incomode”, falei, esperando pela sua reação.
“Como é que é, Cecília?!”, ele disse, exaltado.
“Tô brincando, seu bobo! Tu achas que eu teria coragem?! Até porque eles dormiam mesmo é junto comigo...”, falei, outra vez brincando com ele.
“O QUÊ?!”, ele voltou a se exaltar.
“O que foi?!” Tentei permanecer séria, escondendo um sorriso.
“Como assim Cecília? Quando foi isso? Porque você não me contou antes? Eles? Quem são eles? Seus namorados? Cecília?!”, ele disse exaltado e bravo. 
Não aguentei e ri alto na sua frente.
“Qual é a graça?”, ele disse, bastante sério.
“A sua cara de espanto, bobo! É claro que não fiz isso!”
Ele continuava sério, me olhando. 
“Juro, Cícero, tava só testando sua reação!” 
E a expressão do seu rosto foi melhorando. 
Ele riu logo depois, levantou e foi direção ao seu quarto. Deixei que ele fosse sozinho até que se adaptasse à nossa casa de novo. Fiquei na sala esperando ele voltar - demorou um pouco, mas veio.
“É, realmente nada mudou”, ele disse, indiferente, e eu concordei com a cabeça.
“Tô com fome! Vamos pedir uma pizza?!”, ele continou, agora animado.
“Claro, metade calabresa e metade mussarela, por favor”, eu disse.
Ele concordou e já foi logo pegando o telefone e pedindo a pizza. Não demorou muito e nós estávamos aos risos - ele me contava suas histórias e eu contava as minhas. Contava do meu trabalho como estagiária, da faculdade, e ele falava do seu curso, das namoradinhas, das cidades que conheceu enquanto esteve fora. Cícero conheceu quase toda a Europa e disse que todas as vezes imaginava que eu estivesse com ele. Mesmo nos falando quase todos os dias pela internet, nada se comparava a estar na presença um do outro. Ficamos até tarde conversando; quando nos demos conta já eram cinco horas da manhã. Decidimos então que conversaríamos até pegar no sono. A sorte de amanhã ser sábado me deixava desfrutar desse luxo - em outros tempos, já estaria acordando para ir trabalhar. 
As histórias de Cícero eram engraçadas, as aventuras que ele tinha passado me faziam ficar feliz com ele e rir até a barriga doer. E como ele havia me prometido, trouxe um presente de cada lugar que visitou – no fim das contas, eu estava cheia de chaveiros, blusas, livros, CDs, todos do meu gosto, incrível como ele não errava. Depois de muita conversa, resolvemos dormir. 
Acordei e já eram três horas da tarde. Cícero, pelo visto, ainda não havia acordado, e sabia que demoraria por estar cansado da viagem. Comi alguma coisa e me sentei no sofá em silêncio, olhando para o teto. 
Cícero estava em casa, e eu tinha certeza que ele não iria embora de novo. Dessa vez não havia motivos para isso. O que tinha levado meu irmão a passar tanto tempo fora de casa foi a morte de meus pais. Cícero se sentia extremamente culpado pela morte deles e, por mais que eu dissesse que a culpa não era dele, ele nunca havia, de fato, aceitado ou se perdoado pelo o que acontecera no passado. De repente, me vieram flashes daquele dia. Eu, minha mãe, meu pai e meu irmão, juntos no carro, conversando e nos divertindo, quando de repente um carro fez uma ultrapassagem proibida e nos atingiu. Cícero, que estava dirigindo, tentou desviar, e nosso carro capotou. Depois disso, não lembro de mais nada. 
A morte dos nossos pais foi devastadora. Eu tinha apenas 15 anos e Cícero, 18 - ambos tínhamos ficado muito mal e, num piscar de olhos, estávamos órfãos. Às vezes você faz planos e basta alguns instantes para que tudo isso mude. Ele cuidou de mim como pôde, mas eu podia ver em seus olhos a culpa. Ele tinha parado de sair com os amigos, se isolado do mundo. Não ia mais às aulas, falava comigo apenas o necessário. Emagrecera, seus olhos tinham perdido o brilho. Cícero tinha se perdido dentro dele, tinha morrido naquele dia com meus pais.
De repente, os papeis se inverteram e eu cuidava do meu irmão. Quando soube que seu curso na faculdade estava oferecendo um intercâmbio para Londres, tratei de inscrevê-lo sem que ele soubesse. Fiz tudo às escondidas, até que, por alguma sorte, descobri que ele tinha sido escolhido. No começo, foi difícil convecê-lo e, depois de muito relutar e me fazer prometer que nos falaríamos todos os dias, ele decidiu que ia. E, por mais que a saudade fosse doer e eu precisasse de Cícero comigo, para que pudéssemos superar juntos a nossa perda, talvez aquele momento fosse hora de esquecê-la, por mais cedo que fosse. E durante aqueles seis anos, com Cícero longe, eu tinha aprendido a me virar: terminei o colégio, consegui um estágio numa empresa qualquer. Não ganhava muito, mas dava para suprir minhas necessidades e Cícero sempre que podia me mandava algum dinheiro. 
Sem perceber, não notei que de longe ele me observava sorrindo, o olhei e retribuí o sorriso.
“O que você tanto pensava? Parecia absorta em seus pensamentos...” 
“Nada de mais, só em como é bom ter você aqui.”
“E dessa vez, não adianta que você não vai ser livrar de mim!”
“Droga! Já estava pesquisando na internet outro intercâmbio pra você!”, falei rindo.
“Nem adianta, não saio mais de perto de você!”, ele falou, rindo ainda mais.
“O que você acha de darmos uma volta? Afinal, você ainda lembra de NY, meu caro?!”
“Acho que sim”, ele disse, fingindo que tentava se lembrar. “Vou tomar um banho e vamos, ok?”
“Ok, também vou”, respondi.
Tomei banho e me arrumei às pressas; Cícero já me chamava pela terceira vez e reclamava do quanto eu estava demorando para me arrumar. Cheguei à sala e o chamei para que fôssemos logo. Levei-o até o Central Park, caminhamos um pouco e comemos. Logo fomos ao shopping ver algumas coisas, pegarmos um cinema e quando estávamos a caminho, vi um aviso que dali a duas semanas teria uma exposição de balões. Fiquei animada e falei com Cícero para que fôssemos. Assistimos o filme e fomos para casa, comentando sobre o filme. Quando chegamos, sentamos juntos no sofá, ele estava calado e me olhava bastante.
“O que você tanto me olha?!”, falei, inquieta.
“Pequena, tu ainda gosta de balões? Percebi sua animação com aquele aviso da exposição...”, ele disse calmamente.
“Claro que sim, você sabe como sempre gostei! Mesmo depois de tudo...”, falei um pouco baixo.
“Eu sei... Naquele dia, do acidente, você iria andar em um, não é?”, ele perguntou, numa mistura de receio e curiosidade.
“Ia sim.. Não sei porque, mas sempre tive essa fascinação por balões... Mesmo depois do acidente, continuei a gostar deles. Não sei se teria coragem, mas acho que só olhá-los será bom”, falei indiferente.
“Hum”, ele respondeu. Logo mudou de assunto. Conversamos sobre outras coisas e fomos dormir.
A semana passara normalmente; ia trabalhar e depois para a faculdade. Cícero estava resolvendo umas coisas e procurando por emprego. Saíamos algumas vezes e ele, de vez em quando, tocava no assunto da exposição dos balões. Perguntava se eu teria coragem de andar em um e o que faria se isso acontecesse... Eu sempre cortava o assunto. O fato de ele me perguntar sobre isso me incomodava. Eu sempre gostei de balões, sentia que eles davam a sensação de liberdade, quase igual a de um pássaro; deixar o vento te guiar para algum lugar dava sensação do desconhecido, de desafio... Mas depois da morte dos meus pais, eu tinha perdido essa vontade... Ainda gostava muito, mas era apenas isso. Só de pensar em andar em um me dava um certo medo - não da altura em si, mas porque me fazia lembrar o dia do acidente. Lembrava-me de como estava empolgada naquele dia e de como, depois dele, eu havia deixado essa vontade e essa fascinação de lado. 
A semana passara rápida e já estava chegando o dia da exposição. Cícero andava quieto e misterioso demais, mas não questionei. Talvez ele estivesse assim pelo fato de não arranjar um emprego ou algum problema do tipo. Um dia antes da exposição, Cícero tinha passado o dia todo fora de casa, só me ligou dizendo que estava ocupado resolvendo umas coisas; não liguei muito. Até que domingo chegou. Acordei ansiosa - e nada do Cícero. Descobri que ele não tinha dormido em casa, liguei preocupada e ele disse que me encontrava na exposição. Fiquei intrigada, mas me arrumei depressa para logo ir ao seu encontro. Saí de casa e peguei o metrô. A exposição seria num lugar afastado de Nova York, com tantos prédios não teria graça de ver tantos balões no céu. A ansiedade de ver um balão pela primeira vez me fazia sentir um frio na barriga, mesmo que fosse apenas para ver. Cheguei à exposição e o lugar estava repleto deles. Procurei por Cícero e nada. Liguei até ele me atender. Parecia estar ansioso. Disse que era pra eu ficar parada onde estava, pois ele tinha uma surpresa.
“O que você está aprontando, afinal de contas?! Você não dormiu em casa e agora isso tudo aqui na exposição!”, falei nervosa, mas com um pingo de curiosidade.
“Calma, pequena. Você confia em mim ou não?”, perguntou ele, calmo.
“Claro que sim, mas só quero saber o que é!”
“Calma, Cecília, estou indo aí!” 
E desligou o telefone. 
Esperei por ele ansiosa e admirando o tanto de balões e pessoas que havia ali. Depois de alguns minutos, senti alguém chegar por trás de mim e por a mão em meus olhos. Sorri, já sabendo que era ele.
“Anda, deixa que eu te guio!”, ele disse, rindo.
“Meu Deus, fala logo!” - já não me continha de ansiosidade.
“Cecília, a curiosidade matou o gato, você sabia?” - ele continuava rindo, mas estava calmo.
“Eu sei! E pelo visto você quer me matar!”, falei, já com raiva.
Ele nada disse e deixei que me guiasse, até que chegamos onde ele queria.
“Pronto, pode abrir os olhos”, ele disse calmamente.
E quando abri, me deparei com um balão a minha frente. Um balão igualzinho a foto que tinha no mural do meu quarto, uma simples foto que tinha tirado da internet. Minha reação foi de infinito choque. Então, era isso que ele vinha fazendo nessas duas semanas!
“C-Cícero, o que é isso?!”
“Oras, pequena, seu balão!”
“M-meu b-balão?” 
“É, Cecília. E desde quando você ficou gaga?!” - ele riu. 
Eu o olhei e o abracei com todas as minhas forças. Não podia acreditar que ele tinha feito isso! Ele tinha comprado um balão, o balão que eu tinha visto na internet! Eu não poderia estar mais surpresa e feliz!
“Cecília, você tá me sufocando...!”
“Cícero, nem acredito! Você tem noção de como isso é importante pra mim?!”, perguntei, lagrimando de felicidade.
“Eu sei! E nós vamos, juntos, daqui a pouco, voar nele”, ele falou tentando parecer calmo, mas deixava transparecer a ansiedade.
Naquela hora, me bateu um medo. Lembrei-me do acidente e, como se tivesse lido minha mente, ele apertou minha mão e me olhou no fundo dos olhos. Aquele olhar me acalmou. Um olhar que dizia que ele estaria lá comigo. 
Os balões seriam soltos às quatro hora. Primeiro, tivemos um treinamento, nos deram as instruções, o que fazer em casos de emergência... Logo já era quatro horas. Meu corpo era uma mistura de medo, ansiedade e felicidade! Cícero também parecia bem ansioso, mas estava mais calmo que eu. Até que chegou a hora. 
Entramos juntos, de mãos dadas. O balão começou a subir. Subiu em meios às nuvens de algodão doce do fim de agosto. Lá estava eu em meio aos seus desenhos abstratos.
De repente, Cícero apertou minha mão, falando baixo:
“Cecília, pra começar a colorir algum lugar que seja esse aqui, com um balão só, já dá pra voar e começar a descobrir, o que é chegar, o que é partir, o coração só precisa de ar e deixar...”, ele disse, sorrindo. 
Eu não tinha palavras para aquele momento. De repente, eu já não estava com medo. Eu tinha Cícero ao meu lado, sem que nada o afastasse de mim; e sei que em algum lugar meus pais estavam conosco. 
O sol estava se pondo, e eu encostada no ombro de Cícero observando tudo aquilo. E de repente, eu disse baixo:
“Mas, tudo bem. O dia vai raiar pra gente se inventar de novo. E o mundo vai nascer de novo.” 
Depois de seis anos, tudo estava no lugar. E nada no mundo ia mudar isso.

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